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O futuro requer novas leis e novas maneiras de encarar as rápidas mudanças do mundo

O futuro requer novas leis e novas maneiras de encarar as rápidas mudanças do mundo

Francesco Farrugia, presidente da Campus Party Brasil, conversa com o Simi sobre o futuro das redes e da educação

“O futuro não é mais como era antigamente.” Esse é o trecho da música “Índios”, da banda Legião Urbana. Escrita em 1986, a canção se mostra cada vez mais atual e urgente. Vivemos o período de grandes e rápidas mudanças

ma rápida aceleração impacta as indústrias tradicionais, o comércio e também a vida dos cidadãos. Segundo a União Internacional de Telecomunicações (ITU), 70% dos jovens no mundo estão conectados à internet e, como aponta o Instituto Gartner, atualmente 8,4 bilhões de dispositivos se conectam à rede mundial de computadores. Mas o que podemos esperar de toda essa revolução? A sociedade está madura para enfrentar tais desafios que se avizinham? O Simi conversou com Francesco Farrugia, presidente da Campus Party Brasil, e atualmente um dos maiores pensadores sobre o futuro do mundo. Ele esteve em Belo Horizonte e fez palestra durante o evento Minas Inova Fapemig, na Arena do Simi. Francesco falou sobre a revolução dos algoritmos, sobre o futuro das redes e da educação. Confira!

SIMI – O Google captura o som de nossos celulares uma vez por dia, câmeras fazem reconhecimento facial e nos vigiam o tempo todo. Como a gente pode se proteger ou ter nossa privacidade preservada?

FRANCESCO: Esse é um grande debate hoje no mundo. A primeira coisa é não entregando nossos dados em troca de uma conta de e-mail ou de aplicativo de mensagens como o WhatsApp.

Podemos hoje viver sem um programa como o Google?

Ninguém usa seus dados sem o consentimento. Você permitiu ao Google que grave sua voz ou leia seus emails. Claro que é um algoritmo que faz todo o trabalho, mas não deixa de ser perigoso. Se o Google armazena os dados, o que pode fazer o serviço de inteligência das grandes potências? Quando permito ao Google, por exemplo, faça isso, eles me dão em troca um serviço estável e diversas soluções como email, maps e respostas de busca. Mas o problema está no que as grandes potências fazem com o que já rastreiam de dados abertos, aqueles que você disponibiliza gratuitamente como programas, por exemplo como Twitter e Facebook.

Mas os dados públicos não são importante, inclusive para a gestão das cidades?

Quem é o dono desses dados? As informações sobre as cidades têm que ser de seus cidadãos. Imagine uma empresa que queira abrir uma loja na esquina. Ela analisa o fluxo de pessoas seus dados e tem uma informação que vale muito dinheiro. De quem é esse dado? É um dado genérico que tem valor e que deveriam ser da prefeitura. Assim, o governo poderia ceder esses dados para as empresas por meio de parcerias, mas receber alguma contrapartida deles.

E como vamos nos adaptar a isso? Você é otimista ou pessimista em relação ao avanço da tecnologia de dados?

Estamos vivendo uma quebra de paradigma e não sabemos ainda quais leis de proteção precisamos ter ou o que se pode usar ou não. Eu sou um otimista. O problema é que você perde uma área da sua privacidade que antigamente era totalmente sua. Levamos 200 anos para ter os direitos civis que são inviolabilidade das correspondências, sigilo telefônico e inviolabilidade do domicílio. Ninguém pode ler suas cartas, escutar sua conversa telefônica ou invadir sua casa sem o consentimento de um juiz. Hoje, nossa correspondência é a caixa de e-mail, a conversa é pelo Skype ou WhatsApp e o código IP que você se conecta à internet é a sua casa. Por isso, é tão importante o marco civil da internet, para tentar colocar uma ordem em tudo isso. O Brasil foi o primeiro lugar do mundo que fez um marco civil.

As plataformas digitais estão tomando o lugar do Estado no que se refere à infraestrutura das cidades. Isso é muito perigoso, correto?

Estamos frente a grandes desafios, como defender os nossos direitos à privacidade, integridade humana e individualidade. Isso é ainda mais grave. Vou dar um exemplo: eu sou uma empresa que lê todos os seus e-mails e faço isso com bilhões de pessoas. Imagina que você tem uma ideia genial, por exemplo. E a empresa monitorou os textos e mensagens trocados entre os sócios dessa pequena startup. A grande empresa tem duas opções. Ou copia o que você está planejando ou compra sua ideia. Isso torna a concentração do poder de vanguarda sempre nas mãos das mesmas empresas. No entanto, mesmo assim, sou um otimista. O mundo sempre evolui e sempre será imperfeito.

A educação é um caminho para enfrentar os novos desafios da humanidade? Mas ela não está ainda muito atrasada?

A gente vem, desde Bolonha, com um sistema educacional que tem 1,2 mil anos, que foi inovado há 200 anos pela Revolução Industrial. Era um sistema de cima para baixo, do professor para os alunos. Hoje, pela primeira vez na história da humanidade que os filhos e netos ensinam aos pais e avós. Temos muito que aprender com os jovens. Sempre que chega uma nova tecnologia, quem nasce nela tem uma vantagem para dominar essa tecnologia. Quem precisa se adaptar sofre muito. O jovem tem muito o que nos ensinar.

O que acontece quando chega uma revolução? Aquele que detém o conhecimento anterior se transforma em conservador e atrapalha a revolução. Alguns mestres e professores não aceitam que um garoto saiba mais que ele. Eles não aceitam uma relação horizontal. Não existe hoje um guru que saiba o que vai acontecer com o mundo nos próximos 15 ou 20 anos. Hoje, 56% dos universitários formados com menos de 30 anos na Europa estão desempregados. As universidades estão dando diploma de desemprego aos alunos. E como será a vida desses jovens no futuro?

Fonte retirada de: SIMI

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